sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A Impontualidade do Amor









Você está sozinho. Você e a torcida do Flamengo. Em frente a tevê, devora dois pacotes de Doritos enquanto espera o telefone tocar. Bem que podia ser hoje, bem que podia ser agora, um amor novinho em folha.

Trimmm! É sua mãe, quem mais poderia ser? Amor nenhum faz chamadas por telepatia. Amor não atende com hora marcada. Ele pode chegar antes do esperado e encontrar você numa fase galinha, sem disposição para relacionamentos sérios. Ele passa batido e você nem aí. Ou pode chegar tarde demais e encontrar você desiludido da vida, desconfiado, cheio de olheiras. O amor dá meia-volta, volver. Por que o amor nunca chega na hora certa?

Agora, por exemplo, que você está de banho tomado e camisa jeans. Agora que você está empregado, lavou o carro e está com grana para um cinema. Agora que você pintou o apartamento, ganhou um porta-retrato e começou a gostar de jazz. Agora que você está com o coração às moscas e morrendo de frio.

O amor aparece quando menos se espera e de onde menos se imagina. Você passa uma festa inteira hipnotizado por alguém que nem lhe enxerga, e mal repara em outro alguém que só tem olhos pra você. Ou então fica arrasado porque não foi pra praia no final de semana. Toda a sua turma está lá, azarando-se uns aos outros. Sentindo-se um ET perdido na cidade grande, você busca refúgio numa locadora de vídeo, sem prever que ali mesmo, na locadora, irá encontrar a pessoa que dará sentido a sua vida. O amor é que nem tesourinha de unhas, nunca está onde a gente pensa.

O jeito é direcionar o radar para norte, sul, leste e oeste. Seu amor pode estar no corredor de um supermercado, pode estar impaciente na fila de um banco, pode estar pechinchando numa livraria, pode estar cantarolando sozinho dentro de um carro. Pode estar aqui mesmo, no computador, dando o maior mole. O amor está em todos os lugares, você que não procura direito.

A primeira lição está dada: o amor é onipresente. Agora a segunda: mas é imprevisível. Jamais espere ouvir "eu te amo" num jantar à luz de velas, no dia dos namorados. Ou receber flores logo após a primeira transa. O amor odeia clichês. Você vai ouvir "eu te amo" numa terça-feira, às quatro da tarde, depois de uma discussão, e as flores vão chegar no dia que você tirar carteira de motorista, depois de aprovado no teste de baliza. Idealizar é sofrer. Amar é surpreender.

(Martha Medeiros)




quinta-feira, 29 de abril de 2010

O calor e o frio dos outros




Mantenho correspondência por e-mail com algumas pessoas que moram fora de Porto Alegre e fora do Brasil. Não há um único e-mail de ida ou de volta, em que não se fale rapidamente do tempo. "Aqui está um calor dos infernos.'' '' Pois aqui choveu o dia inteiro e refrescou.''
Uma conversa mundana que eu achava típica de pessoas mundanas como eu, mas quando li o livro que traz as cartas que Clarice Lispector trocava com alguns de seus amigos, reparei que 90% dekas também continham observações meteorológicas. Por mais filosófico ou intelectual que fosse o teor da carta, sempre havia um momento para falar do sol ou do nublado lá fora.
Fico pensando o que significa isso. Que me importa se em Paris está chovendo ou se no Rio faz 42 graus à sombra, já que não estou de passagem marcada para lá ? O que importa para meus amigos forasteiros se em Porto Alegre choveu muito em 2002? Todos os dias chove ou faz sol, está frio ou está quente, úmido ou seco, e a cada manhã isso nos parece um fenômeno sobrenatural espantoso.
Creio que compartilhar as condições climáticas do lugar em que se está é um recurso de aproximação. É uma maneira de nos situar geograficamente, de preparar um cenário "visível" para quem não está nos enxergando. Lá no hemisfério norte a pessoa está encarangada, congelada, e no entanto pode nos imaginar bronzeadas e suando, vestindo uma leve blusinha de alças. E talvez seja também uma maneira de justificar nosso humor: temos nossas próprias variações de temperatura, somos pessoas nubladas ou ensolaradas, gélidas ou quentes. A meteorologia nos influencia tanto quanto a posição dos astros, e se mão estamos muito pra conversa, vai ver é porque tem uma ventania lá fora que está perturbando por dentro também.

Não sei se você está lendo esse texto na beira da praia ou embrulhado num cobertor. Não sei inde você está. Não sei se há um temporal se armando ou se está um daqueles dias cinzentos que provocam melancolia na gente. Se eu soubesse, talvez saubesse um pouco de você. É um mistério que a natureza não explica: nossa necessidade de localizar o outro climaticamente. Relutamos em perguntar: você está deprimido hoje ? chorando muito ? com vontade de cometer uma loucura? com saudades de alguém? Em vez disso, é tão mais fácil: como é que está o tempo aí?

Aqui, agora, chove, mas acho que vai abrir.


(Martha Medeiros)



terça-feira, 9 de março de 2010

Amor de Criança



amo te beijar,
amo te abraçar até minhas costas estalarem,
amo quando você canta pra mim,
amo conversar com você,
amo a sua espontaneidade
amo o seu cheiro,
amo a sua gargalhada,
amo a sua voz,
amo o seu sorriso,
amo o seu olhar,
amo o seu cabelo,
amo as suas mãos,
amo quando você me faz rir,
amo tentar dizer o quanto eu te amo (mesmo sabendo que não conseguirei fazê-lo nunca...),
amo fazer declarações de amor pra você,
amo ler e ouvir suas declarações de amor pra mim,
amo quando você me rouba um beijo,
amo olhar para a estrela linda que você me deu,
amo quando você me liga só pra falar que me ama,
amo os seus carinhos,
amo olhar bem fundo nos seus olhos e saber que estou te fazendo feliz naquele momento,
amo escrever cartinhas de amor pra você,
amo as nossas mongolices,
amo não ter te escolhido,
amo você.

pode parecer infantil, coisa de adolescente, bobeira... pra mim não importa. não me importa o que os outros possam pensar do nosso amor, eu só quero demonstrá-lo e vivê-lo ao máximo. a vida é curta demais para rodeios e para 'ficar com vergonha'. quero te beijar no meio da rua sem me importar com o que vão falar. quero gritar bem alto ' Gabriel, eu te amo! ', não interessa quem esteja ouvindo. quero te abraçar apertado sem medo de parecer criança demais. quero sentir seu amor completamente e não pela metade, como muitos hoje em dia insistem em sentir. amo as nossas brincadeiras de criança, o ' quebra-ossos' que é só nosso, as nossas músicas, os nossos beijos engraçadéerrimos, as nossas besteiras, as nossas manias, os nossos momentos.

amo. amo muito. amo pra sempre. imensamente.
Juliana Franco.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010




"Penso em você nos dias chuvosos...


...E nos dias de sol,
nos dias com névoa,


Nos dias úmidos,
nos dias nebulosos,
Nos dias de garoa...
nos dias mornos...

Nos dias frios,
nos dias de vento,

Nos dias quentes...
nos dias de tempestade,
Nos dias calmos,
nos dias frescos...

E até nos dias claros ! "




amo a simplicidade desse amor. pra sempre.






' some people want it all,
but I don't want nothing at all,

if it ain't you, baby
if I ain't got you, baby'.

( If I Ain't Got You - Alicia Keys)

domingo, 24 de janeiro de 2010

Por que precisamos de alguém




Pode acontecer a qualquer hora do dia, de qualquer dia.
Numa sexta-feira às 17h21min de uma tarde nublada.
Você decide que não quer mais fazer o que faz, que precisa trocar de profissão ou trocar de país, mas lembra que pra isso precisa de uma grana que não tem. O sonho de repente fica distante, mas a angústia segue brutal, e então, segue a solução: o telefone. Você liga pra pessoa que não é sua mãe nem seu psiquiatra: é ele. Aquela pessoa a quem você chama intimamente de amor.
Do outro lado da linha, o seu amor ouve pacientemente toda sua narrativa turbulenta e irracional, dá uma risada que não é de deboche e sim de quem já viu essa cena duas mil vezes e diz: daqui a pouco eu tô aí e a gente conversa sobre isso.
Daqui a pouco passa rápido e ele chega. Você não está mais pensando exatamente aquilo que estava pensando antes. Aquilo evoluiu para um diagnóstico emocional torturante: você não vai mais trocar de emprego nem de país, simplesmente porque descobriu que é uma pessoa instável, maluca e com fraquezas que se revelam no meio de uma tarde nublada, e que sendo assim é melhor ficar onde está. Mas chora. Não vai perder essa oportunidade.
Seu amor lhe dá um abraço de urso, faz estalarem sua terceira e quarta vértebras e fala que bom que você não vai embora, então que tal um cinema pra comemorar ? Ao se olhar no espelho você se depara com uma mulher seis anos mais velha e 750ml de lágrimas mais inchada, mas antes que comece a chorar de novo, ele diz: tá linda. Vamos nessa.
o filme termina e você quer conversar. Mais calma, conta pra ele como é difícil pra você manter suas escolhas, que às vezes você gostaria de experimentar sensações novas, mas é complicado abrir mão do conhecido em favor do desconhecido e, olha, juro, dessa vez não é TPM. Então ele diz que também sente isso às vezes, dá um puta beijo nela e, olhando bem no seu olho, diz: é TPM, sim, mas não tem importância.
Amor não é mais do que isso.

(Martha Medeiros)


Me ausentei por um tempo do blog, (não vou mentir dizendo que não tive tempo, porque eu tive muito) só estava sem vontade de escrever. Mas agora estou de volta, pra desejar, um pouco atrasado, talvez, um Feliz Ano Novo pra você, que me dá a honra da visita.

E essa crônica eu dedico a única pessoa que realmente faz tudo isso por mim, aturando minhas crises (por vezes constantes), meus defeitos, mas sem deixar de me amar, o que faz com que eu o ame ainda mais e mais. Obrigada por tudo, Gabriel Soares.
Beijos a todos.




'O meu amor por você é maior que a vida


O meu amor por você vai durar pra sempre


E me faz renascer com o pôr do sol


E me faz descobrir que é lindo, muito lindo


te ver sorrir.'


( O meu amor por você - Kim)


domingo, 27 de setembro de 2009


" Tenho trabalhado tanto, por isso mesmo talvez ando pensando assim em você. Brotam espaços azuis quando penso. No meu pensamento, você nunca me critica por eu ser um pouco tolo, meio melodramático, e penso então tule nuvem castelo seda perfume brisa turquesa vime. E deito a cabeça no seu colo ou você no meu, tanto faz, e ficamos tanto tempo assim que a terra treme e vulcões explodem e pestes se alastram e nós nem percebemos, no umbrigo do Universo. Você toca na minha mão, eu toco na sua.
Demora tanto que só depois de passarem três mil dias consigo olhar bem dentro dos seus olhos e é então feito mergulhar numas águas verdes tão cristalinas que têm algas na superfície ressaltadas contra a areia branca do fundo. Aqualouco, encontro pérolas. Sei que é meio idiota, mas gosto de pensar desse jeito, e se estou em pé no ônibus, solto um pouco as mãos daquela barra de ferro para meu corpo balançar como se estivesse a bordo de um navio ou de você. Fecho os olhos, faz tanto bem, você não sabe. Suspiro tanto quando penso em você, chorar só choro às vezes, e é tão frequente. Caminho mais devagar, certo que na próxima esquina, quem sabe. Não tenho tido muito tempo ultimamente mas penso tanto em você que na hora de dormir vezenquando até sorrio fico passando a ponta do meu dedo no lóbulo da sua orelha e repito em voz baixa te amo tanto dorme com os anjos. Mas depois sou eu quem dorme e sonha, sonho com os anjos. Nuvens, espaços azuis, pérolas no fundo do mar. Clack! como se fosse verdade um beijo."


(Caio Fernando Abreu)


Para o amor da minha vida.
Te amo tanto que nem me cabe. Amo muito. Amo pra sempre.
( postagem digitada ao som de ' Eu sei que eu vou te amar ' de Vinícius de Moraes. A quem interessar saber.)

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Porque Sim


Você tem uma razão muito forte para, neste final de ano, reatar com aquela amiga a quem magoou, para passar um dia inteiro deitado na cama pensando na vida, para interromper a dieta e cair de boca no seu doce preferido. A razão inquestionável e inatacável é: Porque sim.

Você passou o ano inteiro fazendo coisas porque não. Você foi a festas barulhentas e lotadas porque não queria ficar em casa sozinha. Você gastou mais dinheiro do que podia porque não contava que iria ficar sem emprego. Você se frustrou porque não conseguiu a bolsa de estudos na Inglaterra. Você passou despercebida pelo cara que estava a fim porque não ouviram suas preces. Ainda assim, você passou o ano sorridente e bem-humorado porque não esperavam outra coisa de você.


Agora chegou a época do ano em que você não precisa mais se preocupar em dar explicação. Por quê? Porque sim. Acabei de determinar que o final do ano é o momento ideal para expurgar as culpas e para fazer tudo o que lhe passar pela cabeça, sem se importar se é politicamente correto ou incorreto, se vai dar certo ou não. É a hora de ouvir os seus instintos e atender às suas vontades, hora de se permitir uma certa irresponsabilidade, tomar umas atitudes desamparada pela razão. Por quê ? Você sabe por quê.


Vou comprar um vestido vermelho, porque sempre quis ter um. Vou alugar uma moto por um dia porque nunca tive uma moto. Vou ligar para o Gustavo e dizer que fui apaixonada por ele, porque ele nunca soube disso. Vou pegar um ônibus e só descer na última parada, porque me deu vontade. Vou comprar um disco de alguém que nunca ouvi falar, sem escutar na loja. Porque sim.


Um exercício de desprendimento: desatar os nós que enlaçam atos e motivos. Fazer as coisas por impulso. Por quê? Porque às vezes é bom a gente mostrar pra si mesmo quem é que está no comando.




(Martha Medeiros)




E é assim, com uma crônica de uma das mulheres mais brilhantes que já conheci, que eu inauguro esse blog que, sinceramente, não é Nada Além do Que Se Vê .